sábado, 23 de março de 2013

ENCONTRO COM MICHEL ODENT 04/03/2013


No dia 4 de março de 2013 o médico fisiologista Michel Odent ministrou uma palestra na Roda de Barrigas, Bebês e Bigodes, no Rio de Janeiro, falando sobre o futuro da humanidade relacionado à maneira como nascemos. Ele nos brindou com novas evidências científicas que emergiram no meio científico acerca de temas que abordam este período tão mágico, chamado nascimento. Resumimos aqui no nosso blog o que foi discutido nesse encontro tão rico e gratificante.

PARTO E NASCIMENTO DO ASPECTO MICROBIOLÓGICO

Após uma breve apresentação, Michel Odent iniciou este encontro falando sobre a função placentária na transferência de imunoglobulinas do tipo IgG para o bebê durante a vida fetal. No momento do nascimento, os níveis de IgG do bebê estão no mesmo nível de IgG materna. Isso quer dizer que mãe e bebê partilham suas defesas e é muito diferente do que acontece com os outros animais mamíferos. O bezerro, por exemplo, só tem 10% de IgG da mãe. Ou seja, as prioridades de nascimento são diferentes nessas duas espécies. No bezerro há uma necessidade imediata de consumir uma boa quantidade de colostro para obter as imunoglobulinas em níveis altos de forma que os protejam das inúmeras bactérias do ambiente que vão colonizá-lo a partir do nascimento. Entre os humanos a situação é diferente porque os bebês humanos podem sobreviver mesmo sem o colostro. Durante muitos anos, o colostro dos seres humanos tinha uma conotação negativa, e muitas pessoas não ofereciam o colostro para seus filhos. Muitas culturas incentivavam que o colostro fosse desprezado e não oferecido ao bebê, mas mesmo assim isso não significou um risco de vida para o recém-nascido que já possuía a proteção materna adquirida na vida fetal. Descobriu-se então que entre os humanos a principal questão é: Quais os primeiros micróbios que irão ocupar o território (pele, boca e flora intestinal)?
Mario Vaneechoutte, professor do departamento de microbiologia da faculdade de medicina da Bélgica estuda a flora vaginal e sua relação com o estabelecimento da flora intestinal do bebê. É de grande importância a forma que a flora intestinal foi estabelecida imediatamente após o parto e hoje em dia existe um acúmulo de dados científicos que mostram esta importância. Pense que quando o bebê nasce ele não tem nenhum germe em sua pele. Uma hora depois tem milhões de micróbios ocupando esse território. Quais foram os primeiros? Essa é a pergunta que definirá todo seu sistema imunológico em sua vida. Mario comprovou que a flora vaginal se modifica durante a gravidez, se preparando para colonizar o bebê no momento do nascimento. No final da gravidez, há um grande número de micróbios, principalmente os lactobacillus, preparados paras serem os primeiros a colonizar a pela, a boca e o intestino do bebê. O períneo e a vagina são ambientes riquíssimos de microorganismos e durante muitos anos era uma garantia do bebê ser colonizado com os microorganismos da mãe. Porém, nos dias de hoje o cenário e o modo como os bebês nascem mudou. A maioria dos bebês não nasce mais em um ambiente familiar e também muitos não nascem pela via vaginal, impedindo essa colonização que é uma garantia de sobrevivência para a espécie humana. Infelizmente, os bebês não nascem mais nessa zona bacteriana tão rica e protetora. Além disso, muitos ficam expostos aos antibióticos no período perinatal, seja pelo rompimento prematuro da membrana ou pelo uso de antibiótico antes mesmo de se iniciar uma cesariana e isso tem consequências na maneira de como se estabelecerá a flora intestinal deste bebê.
Um estudo realizado na Finlândia analisou a flora intestinal de crianças pequenas que nasceram de cesariana com o uso de antibiótico, e crianças que nasceram via vaginal. Sua flora intestinal era drasticamente diferente. As crianças que nasceram via vaginal apresentaram uma flora intestinal muito mais rica e protetora do que as que nasceram por cesariana. Elisabeth Bik, pesquisadora da Universidade de Utrecht, na Holanda pesquisou sobre o risco de asma na infância entre dois grupos: os que nasceram via vaginal em casa e os que nasceram via vaginal no hospital e o resultado mostrou diferenças significantes no risco da asma na infância entre estes dois grupos estudados, sendo o risco maior em crianças que nasceram no hospital.
Assim, Michel reforça a ideia que o Hommo Sapiens é um ecossistema com uma interação constante entre o hospedeiro e milhares, trilhões de micróbios. Todos possuem mais micróbios no corpo do que o número total de seres humanos no planeta. Portanto, deve-se compreender a simbiose entre o macrobioma e o hospedeiro, que é o ser humano. Desde Pasteur, os ser humano relaciona os micróbios com doenças, e hoje em dia é possível compreender muito, vendo os micróbios como auxiliares na manutenção de nossa saúde, estabelecida através de uma relação de simbiose. Os seres humanos possuem o local propício para o desenvolvimento dos micróbios e em troca eles nos protegem dos outros micróbios que são perigosos (patogênicos) para nós. Eles nos dão energia, nos ajudam na digestão dos polissacarídeos, na síntese da vitamina K, etc. Por isso, há uma maior compreensão também da importância da flora intestinal, que compõe a maior parte do nosso Sistema Imunológico. Nossa saúde e nosso comportamento são altamente influenciados pela nossa flora intestinal.
Isso é um pequeno resumo do que os estudos científicos vêm comprovando e chamando de revolução da flora microbiana. No campo da medicina novos estudos vêm sendo desenvolvidos e reforçando a importância da discussão deste tema - Parto e Nascimento - sob a perspectiva bacteriológica.
Mais informações sobre o assunto podem ser encontradas em:
www.wombecology.com

Redação: Equipe Parto Ecológico


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