No
dia 4 de março de 2013 o médico fisiologista Michel Odent ministrou uma
palestra na Roda de Barrigas, Bebês e Bigodes, no Rio de Janeiro, falando sobre
o futuro da humanidade relacionado à maneira como nascemos. Ele nos brindou com
novas evidências científicas que emergiram no meio científico acerca de temas
que abordam este período tão mágico, chamado nascimento. Resumimos aqui no
nosso blog o que foi discutido nesse encontro tão rico e gratificante.
PARTO E NASCIMENTO DO
ASPECTO MICROBIOLÓGICO
Após
uma breve apresentação, Michel Odent iniciou este encontro falando sobre a
função placentária na transferência de imunoglobulinas do tipo IgG para o bebê
durante a vida fetal. No momento do nascimento, os níveis de IgG do bebê estão
no mesmo nível de IgG materna. Isso quer dizer que mãe e bebê partilham suas
defesas e é muito diferente do que acontece com os outros animais mamíferos. O
bezerro, por exemplo, só tem 10% de IgG da mãe. Ou seja, as prioridades de
nascimento são diferentes nessas duas espécies. No bezerro há uma necessidade imediata
de consumir uma boa quantidade de colostro para obter as imunoglobulinas em
níveis altos de forma que os protejam das inúmeras bactérias do ambiente que
vão colonizá-lo a partir do nascimento. Entre os humanos a situação é diferente
porque os bebês humanos podem sobreviver mesmo sem o colostro. Durante muitos
anos, o colostro dos seres humanos tinha uma conotação negativa, e muitas
pessoas não ofereciam o colostro para seus filhos. Muitas culturas incentivavam
que o colostro fosse desprezado e não oferecido ao bebê, mas mesmo assim isso
não significou um risco de vida para o recém-nascido que já possuía a proteção
materna adquirida na vida fetal. Descobriu-se então que entre os humanos a
principal questão é: Quais os primeiros micróbios que irão ocupar o território
(pele, boca e flora intestinal)?
Mario
Vaneechoutte, professor do departamento de microbiologia da faculdade de
medicina da Bélgica estuda a flora vaginal e sua relação com o estabelecimento
da flora intestinal do bebê. É de grande importância a forma que a flora
intestinal foi estabelecida imediatamente após o parto e hoje em dia existe um
acúmulo de dados científicos que mostram esta importância. Pense que quando o
bebê nasce ele não tem nenhum germe em sua pele. Uma hora depois tem milhões de
micróbios ocupando esse território. Quais foram os primeiros? Essa é a pergunta
que definirá todo seu sistema imunológico em sua vida. Mario comprovou que a
flora vaginal se modifica durante a gravidez, se preparando para colonizar o
bebê no momento do nascimento. No final da gravidez, há um grande número de
micróbios, principalmente os lactobacillus,
preparados paras serem os primeiros a colonizar a pela, a boca e o
intestino do bebê. O períneo e a
vagina são ambientes riquíssimos de microorganismos e durante muitos anos era
uma garantia do bebê ser colonizado com os microorganismos da mãe. Porém, nos
dias de hoje o cenário e o modo como os bebês nascem mudou. A maioria dos bebês
não nasce mais em um ambiente familiar e também muitos não nascem pela via
vaginal, impedindo essa colonização que é uma garantia de sobrevivência para a
espécie humana. Infelizmente, os bebês não nascem mais nessa zona bacteriana
tão rica e protetora. Além disso, muitos ficam expostos aos antibióticos no
período perinatal, seja pelo rompimento prematuro da membrana ou pelo uso de
antibiótico antes mesmo de se iniciar uma cesariana e isso tem consequências na
maneira de como se estabelecerá a flora intestinal deste bebê.
Um
estudo realizado na Finlândia analisou a flora intestinal de crianças pequenas
que nasceram de cesariana com o uso de antibiótico, e crianças que nasceram via
vaginal. Sua flora intestinal era drasticamente diferente. As crianças que
nasceram via vaginal apresentaram uma flora intestinal muito mais rica e
protetora do que as que nasceram por cesariana. Elisabeth Bik, pesquisadora da
Universidade de Utrecht, na Holanda pesquisou sobre o risco de asma na infância
entre dois grupos: os que nasceram via vaginal em casa e os que nasceram via
vaginal no hospital e o resultado mostrou diferenças significantes no risco da
asma na infância entre estes dois grupos estudados, sendo o risco maior em
crianças que nasceram no hospital.
Assim,
Michel reforça a ideia que o Hommo Sapiens é um ecossistema com uma interação
constante entre o hospedeiro e milhares, trilhões de micróbios. Todos possuem
mais micróbios no corpo do que o número total de seres humanos no planeta. Portanto,
deve-se compreender a simbiose entre o macrobioma e o hospedeiro, que é o ser
humano. Desde Pasteur, os ser humano relaciona os micróbios com doenças, e hoje
em dia é possível compreender muito, vendo os micróbios como auxiliares na
manutenção de nossa saúde, estabelecida através de uma relação de simbiose. Os
seres humanos possuem o local propício para o desenvolvimento dos micróbios e
em troca eles nos protegem dos outros micróbios que são perigosos (patogênicos)
para nós. Eles nos dão energia, nos ajudam na digestão dos polissacarídeos, na
síntese da vitamina K, etc. Por isso, há uma maior compreensão também da
importância da flora intestinal, que compõe a maior parte do nosso Sistema
Imunológico. Nossa saúde e nosso comportamento são altamente influenciados pela
nossa flora intestinal.
Isso
é um pequeno resumo do que os estudos científicos vêm comprovando e chamando de
revolução da flora microbiana. No campo da medicina novos estudos vêm sendo
desenvolvidos e reforçando a importância da discussão deste tema - Parto e Nascimento
- sob a perspectiva bacteriológica.
Mais
informações sobre o assunto podem ser encontradas em:
www.wombecology.com
Redação:
Equipe Parto Ecológico
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