Texto
elaborado e traduzido por Heloisa Lessa e editado por Sabrina Seibert a partir
do artigo: Parto em casa planejado nos países industrializados –Michel Odent. Who
–Regional Office, 1991
Fisiologia do parto:
Não
devemos confundir o termo fisiológico com normal. Uma atitude ou um
comportamento podem ser considerados normais em um dado país, mas não em outro. O fisiológico é um
ponto de referência do qual tentamos não nos afastar muito. Os fisiologistas
exploram as funções normais do corpo, o que é universal, o que atravessa as
culturas. Após milênios de interferências culturais rotineiras no processo de
parto, é mais necessário do que nunca voltar as suas raízes, e buscar aquilo
que é fisiológico no nascimento humano.
Para
parir, uma mulher precisa liberar um coquetel de hormônios (ocitocina,
endorfinas, prolactinas, catecolaminas, etc). Todos estes hormônios tem suas
funções controladas pelo cérebro. Podemos dizer que, quando uma mulher está em
trabalho de parto, a parte mais ativa de seu corpo é seu cérebro primitivo –
aquelas estruturas muito antigas (o hipotálamo, a glândula pituitária etc.),
que compartilhamos com todos os outros mamíferos.
Cem
anos antes de Darwin, Jean Jaques Rousseau incluía a raça humana no reino
animal. Ele nos coloca que durante seus 25 anos de pesquisa aprendeu que os
seres humanos são mamíferos. Para dar
a luz as fêmeas mamíferas secretam hormônios, os mesmos hormônios que estão
presente nos partos das mulheres. Esses hormônios são secretados pelas
estruturas cerebrais mais primitivas, as mesmas de outros mamíferos. Essas
semelhanças podem ser um ponto inicial para a compreensão de todo o processo de
parto na nossa espécie. Quando consideramos o parto como um processo
involuntário, que envolve velhas e primitivas estruturas cerebrais inerentes
aos mamíferos deixamos de lado a afirmação de que as mulheres devem apreender a
parir. Dentro desta visão ninguém ajuda ninguém a parir! O que se pode fazer é
manter a privacidade, apoiar, impedir a invasão neste momento impar para
permitir a mulher o encontro com suas raízes mais profundas. O Dr. Odent está
convencido que os achados de Newton são aplicados à espécie humana. Nós não
devemos ter vergonha de reconhecermos que outros mamíferos podem nos ajudar a
redescobrir algumas coisas que havíamos esquecido.
O
ser humano não pode perder o contato com suas raízes impunemente. O parto e o
nascimento são momentos privilegiados para compreendermos esta regra
fundamental. As raízes mais superficiais são as culturais. O parto expontâneo
de uma mulher completamente separada de seu meio cultural é sempre difícil
senão impossível. A mulher que dá a luz, por exemplo, tem a necessidade de se
exprimir em sua própria língua e a partir de um determinado momento do trabalho
de parto ela tende a simplificar seu vocabulário e a usar apenas as palavras
apreendidas na primeira infância.
Sem
este contato necessário com as raízes culturais, não pode haver o contato
necessário com as raízes filogenéticas, ou seja as raízes mais profundas. O
contato com nossas raízes filogenéticas é sinônimo da escuta do cérebro
instintivo, do cérebro víscero-afetivo. Este contato com as raízes animais se
traduz concretamente, por parte da mãe, pela procura de posições que não são
especificamente humanas, como a posição de quatro, e por modo de
expressões pré-verbais, tais como o
grito.
Segundo
Odent (1981). Todos os mamíferos se
isolam na hora do parto. Eles precisam de privacidade. É a mesma coisa com os
humanos e devemos estar sempre atentos a esta necessidade básica no que diz
respeito ao parto.
Durante as últimas duas
décadas muitos bebês têm nascido num ambiente tecnológico. Os obstetras
acreditam que monitorando o coração fetal continuamente vão poder intervir e
salvar alguns bebês que estejam correndo risco. Eles estavam convencidos que
esta era a forma de tornar os partos mais seguros. Esta convicção, porém não
teve suporte nas evidencias científicas.
Muitas
evidências recentes sugerem que a era dos partos eletrônicos esteja chegando ao
fim. Nós estamos num momento de virada turn in poin ) na história da obstetrícia. Um
marco nesta mudança foi o artigo publicado em 12 de dezembro de 87 no jornal medico Lancet um dos mais respeitados do
mundo. O artigo comparava oito estudos que foram realizados na Austrália,
Estados Unidos e Europa envolvendo centa de 10.000 partos onde se comparavam
grupos de mulheres parindo com monitorização fetal e mulheres parindo com
parteiras que mal ouviam intermitentemente o coração dos bebês. As conclusões
finais são que estatisticamente o uso do monitor fetal só fez aumentar as taxas
de cesáreas e partos com a utilização do fórceps. Nenhuma outra diferença significativa
pode ser mostrada entre estes dois grupos quando comparamos o numero de
crianças que nasceram vivas ou com boa saúde.
O
declínio nas taxas de mortalidade no período do nascimento no ultimo século e
que continua nas ultimas três décadas pode ser explicado por outras razões e
não pela monitorização fetal continua
nos partos.
O
tempo é chegado de considerarmos os efeitos que o meio ambiente exerce no
processo do parto e no primeiro contato entre a mãe e o bebê . Temos que
começar a responder a questões simples e a nos prepararmos para uma era
pós-eletronica Para muitos que trabalham
na área da obstetrícia e no Brasil, para a ampla maioria dos profissionais,
estas conclusões são difíceis de se integrarem nas suas convicções anteriores,
mas para alguns médicos e parteiras isso apenas confirmava o óbvio.
Questões
simples são a chave para compreendermos o parto de outra óptica. Por exemplo,
que o ambiente pode inibir a parturição humana. Que tipo de ambiente pode
inibir o trabalho de parto? Que tipo de ambiente pode influir negativamente no
primeiro contato entre a mãe e o bebê e a amamentação/
Em estudos realizados
com outros mamíferos por Niles Newton na década de 60 fica claro que um
ambiente estranho ou que a mudança de ambiente durante o parto é totalmente
prejudicial. A parturiente precisa reconhecer o cheiro e o local que devem
pertencer a sua vida diária. A proposta assistencial que
vem sendo adotada em algumas unidades de assistência ao parto que é a cama PPP
vem de acordo com este preceito teórico aonde a mulher não deve mudar de lugar
durante as diferentes fases do trabalho de parto. A cama PPP é sem dúvida
nenhuma um grande avanço no atendimento a parturiente no parto
institucionalizado.
Muito
outras questões podem ser levantadas a partir de um olha critico sobre o
processo fisiológico do parto. Tais questões podem ser vistas no libro do Dr.
Michel Odent intitulado A gênese do Home Ecológico, e serão paulatinamente
discutidos em nosso blog.
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